segunda-feira, 1 de março de 2010

Emudeço




Emudeço. Já de nada me servem as palavras.Chove lá fora e eu, embora tenha despertado com a alma úmida estou seca como uma estalactite cálida. Sou um arabesco sólido e bem concreto de mim mesma. Mas logo eu, que sou tão abstrata? Talvez eu esteja tão além de mim que possa até me ver assim de relance, como quem vê um prisma.Talvez possa até sentir, em minhas mãos, a suavidade vaporosa de seus tons,como quem sente uma pequena camada de gotículas sonoras. Mas tocar, jamais. Estou além. E tudo isso acontece no instante de uma palavra, e acontece com a profundidade da sua sombra.E como essa palavra me é ininteligível, assim como eu sou a mim mesma, esqueço-a. Fico com a sombra. E a minha sombra é o meu silêncio, e esse silêncio se dilata em mim, e eu me sinto então repleta de mim mesma.Esqueço,emudeço, pois temo que eu seja volátil de mim mesma.

Um comentário:

  1. É de arrepiar o jogo de palavras e a profundidade do que representam. Vc sabe estruturar um texto e envolver os leitores. Gosto demais. Continue a nos brindar com seus textos, sua poesia,seu talento!

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