terça-feira, 6 de janeiro de 2015

já diria a Tia Berenice

já proclamava a Tia Berenice, com a qual nunca tive contato senão pela vividez das narrativas familiares,  em tom profético, - “Amor demais sufoca!”. consta nos autos da mitologia familiar que a mesma possuía características claras daquilo que hoje se convencionaria um transtorno de bipolaridade- idiossincrasias da ciência. eu, sempre muito dada a mitologias, que dirá uma tão particular e circunscrita às minhas vivências, pensei pesquisar a fundo. pode ser que tia Berenice dissesse isso em um momento de sensibilidade mediúnica, assim como a outra Tia que, diz-se, perseguia os chinelos que fugiam a seus pés, além de outros casos de incorporações, pais de santo e manifestações de seja lá quem estivesse no cavalo. pode ser, ao revés, que Tia Berenice dissesse isso nos momentos em que sua doença fizesse a graça de permitir um lampejo de lucidez - lucidez quando teima em não aparecer e resolve dar as caras é como fosse fenômeno mediúnico. seja que fosse, pensei na frase dita pela dita Tia. se amor demais sufoca, a que sorte de efeitos colaterais estaria sujeito amor de menos? tem dose adequada? é pra tomar a goladas ou administrar doses homeopáticas? 
sem resposta, continuei minhas buscas noutro tipo de mitologia, esta abrangente e difusa - a literatura e seus grandes ícones, deuses e deusas misericordiosos. na relação de deuses catalogados encontro a antologia de Fernando Pessoa, que exitosamente se subcatalogou em Alberto Caeiro e inscreveu em português-aramaico: “O amor é uma companhia”. e companhia é vigília e aconchego em prontidão.