quinta-feira, 24 de março de 2011

Chafurdar( ou da inquietação de um causídico)

“Os escrotos estão em toda parte”- dizia. Dizendo isto, Vautrin ajeitava os óculos que pairavam sobre seus pequenos e foscos olhos. “No Direito não será diferente. A única diferença é que o Direito é uma escrotidão institucionalizada, oficializada, e não aceita nenhum tipo de escrotidão paralela. A lei não é nada. Muitos teóricos já discorreram sobre esta falha, você já deve ter estudado. Lassale proferiu em sua célebre palestra de 1862 que a Constituição não seria mais do que um pedaço de papel. Bem antes, em 1651, Hobbes já salientava que os pactos sem a espada não passam de palavras. E os escrotos do Direito têm o respaldo da espada e compactuam tacitamente com a opressão das classes mais baixas da sociedade, a saber, os escrotos que não têm dinheiro”. Essas palavras, à primeira vista, parecem brutas para um jovem estudante, pronto a desbravar trilhas, entre artigos, incisos e alíneas trêmulas, vacilantes, e ostentar bandeiras em nome da justiça. Alea jacta est. Talvez Vautrin estivesse certo, talvez não. Talvez seus pequenos olhos opacos guardassem tamanha experiência e sabedoria, e por isso fossem opacos. O reflexo dos óculos ainda disfarçava essa tenaz amargura, como um feixe de esperança. Será? Não pretendo me corromper com o sistema ou compactuar com a escrotidão promulgada.E talvez ainda tenha muito o que aprender. Alea jacta est.

OBS: Vautrin vem do francês se vautrer(chafurdar). O nome vem da obra Le Père Goriot de Honoré de Balzac.

sábado, 12 de março de 2011

Camafeu

Ah, se eu pudesse te levar como quem porta consigo no bolso um camafeu de engenhosa ourivesaria, feito de delicado ouro e rocha ígnea... Você tem em si o vulto de um gesto, o tilintar que existe do choque entre o momento-agora e o momento-por-vir e ainda a agrestia em estado bruto,como que barro.