sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Últimas considerações de um jovem seminarista


Arthur Paiva, 23 anos, estava a um ano de conseguir a batina. Depois da noite de 21 de maio,  ,nunca mais fora visto. Deixara em seu cômodo um bilhete, não sem provocar um impacto na comunidade eclesiástica. Não era que não tivesse fé. Tinha até bastante fé. E nos momentos mais adversos da sua vida. Teve fé quando ficou órfão. Teve fé quando ainda criança teve que trabalhar sem descanso e sem tempo de ser criança. Teve fé quando apanhava de seu tio bêbado, um dos poucos parentes de que tinha conhecimento. Teve fé ainda quando seu único presente de Natal foi uma boneca velha e surrada que sua prima lhe dera, doce criatura, única entre os tais parentes que lhe despertava afeto. Em seu bilhete aponta que havia decidido ser ateu por um motivo prático - descobrira que uma verdade não se sustenta na presença de outra. Uma mentira, contudo, pode muito bem existir com outra. Incontáveis mentiras coexistem. Aliás, não se mata por algo que se supõe mentira, mas, sim, por verdades monumentais.


Ora, Deus não está morto. A sua multiplicidade de representações é que vinha tornando a convivência humana pouco viável.

A população local e colegas de seminário que tanto o estimavam, acreditando estar ele morto, ainda rogam para que estas razões vinguem no momento do derradeiro veredito. Afinal, era um menino bom.