quarta-feira, 4 de março de 2015

Fosse eu dirigir uma cena de fim do amor

“Segura na respiração! Agora não tem texto pra você se debruçar!”

Um ator profissional não precisaria de muletas. Um ator profissional não precisaria de um cigarro ou de um celular pra checar de cinco em cinco minutos. E os pés inquietos? Só se a cena pedisse e o diretor de arte achasse conveniente com outros elementos do quadro. Um ator de naipe saberia segurar a tensão da cena com apenas com inspirar expirar inspirar expirar...como é a respiração de quem sabe que vai deixar pra trás um pedaço de sua história?

Silêncio

Silêncio

Silêncio

Agora é a deixa. Isso a gente chama de deixa. É um sinal de que a bola tá com você. Falar alguma coisa. Esboçar alguma reação.

“Agora...agora você vai dizer esta fala para feri-la. Sim, você tem raiva. Dela e de si mesmo por ter acreditado nessa tolice. Mas na próxima fala, você ameniza, lembra dos momentos bons que vocês passaram juntos e lança um olhar terno. Mas cuidado, não esmoreça.”

Ok. Assim será.

As lágrimas rolam e não é cristal japonês.

“E agora, qual a intenção da personagem?”

Um abraço só cúmplice na medida em que essa cumplicidade é a  perspectiva do fim e que se teve fim é porque teve um começo. No mais, é cortante.

“Mantenham a tensão da cena. Faltou verdade naquela última passagem. ”

Talvez fizesse como Kubrick, fazendo vocês repetirem inúmeras vezes a mesma cena. Não por perfeccionismo, mas porque com a exaustão a ficha cai. Ou então seguisse uma linha mais Cassavetes, no improviso e no jazz, quem sabe um dia tudo se ajeita. No jazz e no improviso um dia a dor vai embora de vez. No jazz e no improviso você vai levando até aparecer um outro alguém pra você improvisar e ouvir um jazz.


Por ora, sigamos em frente, segurando na respiração.