segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Sobre haicais

 É um poema
Em .rar
Ai dele!
Todo espremido-
o haicai

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O Trans-verso

E se até o verso
Tergiversa
Que mal há
em andar no reverso?

sábado, 21 de julho de 2012

Fausto(Uma rapsódia jurídica)


- Cara, ninguém mandou você ter aceitado por causa daquela mulherzinha. Contrato é contrato, agora tem que cumprir. É o pacta sunt servanda, saca?     

Coitado do diabo, dando uma de esperto com um estudante de direito recém-formado. O diabo é sábio porque é velho, mas o estudante de direito é jovem, mas estuda direito.

- Você está por fora, rapaz. Os tempos mudaram. O neoconstitucionalismo está aí.

- E eu com isto? Não tenho nada com Constituição. Só sei que a gente fez um pacto, agora tem que cumprir o contrato. Você teve o que você quis, a Ana, dinheiro, poder. Agora falta a minha parte. Não tente passar a perna em mim, não, conheço pessoas como você.

-Pois é, mas o Senhor nunca ouviu falar em função social do contrato?

-Vai querer me dar aula agora? Eu sei dos meus direitos. E eu tenho direito à tua alma.

-Acontece que esse contrato visivelmente desfavorável à parte hipossuficiente, no caso, eu...

- Que é que cê tá falando, cara? Cê ganhou dinheiro à vera.

-Eu sei. Mas foi por um período muito pequeno comparado à eternidade em que eu vou ficar trancafiado sofrendo as agruras do Inferno. Isso não é nada razoável.

- E o que você sugere? Levar o caso ao Tribunal Internacional? Quer dizer, Sobrenatural? (risos)

O Sete Caras usou de sarcasmo. Mas uma pessoa qualquer usa de sarcasmo para atacar, ele se utiliza desse artifício quando não tem mais nenhum recurso, acuado como um sapo que, assustado, aciona suas glândulas parótidas jorrando veneno no agressor. Sentia que, pela primeira vez, poderia fracassar. Os tempos estavam mudados.

- Se existisse. Podemos formar um ad hoc. Quer chamar Atena pra julgar? (risos)

Qualquer especialista na guerra de oratória sabe que sarcasmo se responde com sarcasmo.

  - Qual foi? Não temos aqui nenhum caso de pai que matou filha, filho que matou mãe ou coisa do tipo. Você sabe disso. Nossa questão aqui é contratual. É só cumprir. Você vê, eu não sou um cara tão mau. Só quero o que é meu de direito.

- “Lasciate ogne speranza, voi ch' entrate"

- Conheci esta peça, gente boa o cara. Mas por que essa agora?

-Argumento de autoridade. Não é justo, porque eu tive algumas horas de prazer, que eu tenha de passar uma eternidade sofrendo a Eterna Dor, entre almas perdidas... E outra: No portal, bem lá na entrada,  diz “Justiça moveu o meu alto criador”. Você se diz justo. Você acha isto justo?

- Errrm...Hummm

- Respondido. Além do quê, você já tem muitas almas. Mais uma, menos uma, não vai fazer diferença...

- O que você sugere então? Passear lá? (risos)

O clima já estava menos tenso. O Diabo parecia mais tranquilo e resignado.

-Por mim. Eu tenho de cumprir a minha palavra. Eu fico lá numa quantidade de tempo equivalente ao do dia em que a gente firmou o contrato até hoje, o que dá, no total, cinco meses, dois dias, três horas, vinte e seis minutos e quinze segundos.

-Ok.

O Diabo concordou, já de saco cheio. A prolixidade às vezes pode ser de grande valia.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Num meio-dia de fim de primavera (à Fernando Pessoa)


Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Fernando descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do céu.
Era Pessoa demais para fingir
De espírito elevado, espírito de luz.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E entrar nos livros de literatura, e estar sempre a ser estudado
Com um chapéu todo à roda de idéias fantásticas
E os bigodes espetados por um pente,
E até com um óculos à roda dos olhos
Como os pretos nas ilustrações.



Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Fernando eternamente nos livros de literatura.
E deixou-o pregado na cabeça dos que estão aqui na terra
E serve de modelo aos novos grandes escritores.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.

Hoje vive na minha cidade comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou –
«Se é que ele as criou, do que duvido» –
«Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres.»
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Fernando adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Fernando verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Como um acordo íntimo
Como as suas palavras e o que elas representam para mim.
(ou como os seus textos e os seus subtextos/entrelinhas???????)

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.

Esta é a história do meu Menino Fernando.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

Giulia Willcox, março 2010

Dedicado à Fernando Pessoa que sempre encheu a minha vida de poesia e à minha avó, que além de tirar versos de pedras, num meio-dia de fim de primavera achou essa minha "paródia" há tempos perdida. (;

quarta-feira, 28 de março de 2012

siete umani

fosse que nem Pangeia
homem pari-passu com homem
e desvendou-se a Panaceia

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Design Gráfico

Xerife
Sem serifa
Comic sans