quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A ideia de Deus

Às vezes penso no Universo como uma grande matrioshka. A gente vai tirando uma por uma até chegar à ideia de Deus. E Deus é essa última matrioshka, única e indivisível. A ideia de Deus é muito mais acessível ao pensamento humano do que todo o Universo. Deus fez o homem à sua imagem e semelhança? Ou o homem “fez” Deus à sua imagem e semelhança? E por que o homem assim o teria feito, se para criar um ser Todo-Poderoso e onipresente ele poderia usar de toda criatividade de que dispõe? Não poderia Deus ser uma luz? Uma energia? Ou até amorfo? A resposta para isso, em minha opinião, reside no seguinte fato: a mente humana é incapaz de dimensionar o infinito, um sem-fim desconhecido, apenas finge conhecê-lo na literatura dos séculos, em símbolos que representam e dão a ideia de infinito. Mas como representações humanas, são forçosamente finitas. E antes mesmo que uma mente humana começasse a tentar imaginar esse infinito, se encheria de medo e se reduziria à sua pequenez. Então, qual a solução perfeita para esta equação? Uma transferência pictórica. Substituir essa imagem atemorizante e essa sensação de angústia diante do desconhecido por uma imagem mais que conhecida: a do semelhante. Deus é o familiar, é o afável. Não me dê poeiras cósmicas, buracos negros e supernovas. Isto não está ao meu alcance. Dê-me os braços de meu pai que muitas vezes me acolheram e os olhos ternos de minha mãe. Dê-me conforto. Isto é Deus. O resto é física quântica. Enquanto isso,  vou me encolhendo, procurando abrigo nessa grande matrioshka, com homens que parecem Deuses e um Deus que parece homem.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Religiosamente

O eclético eclesiástico
Ao som de um bom samba
cantava hosanas
ao Deus do metal

terça-feira, 16 de abril de 2013

A minha vida
É caso pra vidência
Me disse a cartomante
"Qualquer semelhança
                                com a realidade
                                                        ...é mera coincidência"

terça-feira, 26 de março de 2013

Ronda noturna


O que me restou são essas imagens que me assaltam madrugada adentro. Recordações. Imagens caleidoscópicas e sensuais. Recordações que tanto podem ser do passado quanto do futuro. Isso porque, devo explicar, sofro de anacronismo genético e de nostalgia congênita, de coisas que não aconteceram e possivelmente nem irão acontecer. Apago a luz, deixo a lâmpada da cabeceira acesa. Gosto da penumbra. A escuridão deixa tudo demasiadamente plano, e eu não quero você geométrica, cartesiana. Quero você pulsante, transbordante. Já a luz em excesso me dói os olhos. A penumbra cai bem pro meu paladar escorpiano. A minha ideia de ti é sempre incompleta, imperfeita.  Só o meu tato que permanece agudo como uma estaca de gelo.  Agudo, ângulos, geometria...não, não se trata de geometria. Trata-se de som, de ruídos, ondulações - de novo vida pulsante. O agudo do canto das Dríades que habitam as relvas, possivelmente a mesma música que Keats apreciou tempos atrás*. Música anciã que atravessou chuvas e terras molhadas até chegar à minha geração. Mas a visão ainda é imprecisa. Será a miopia? De repente ela se lembrou daquela passagem de McLuhan: “A meia de seda de malha larga é muito mais sensual do que o nylon macio, porque o olho manipula, preenchendo-a e completando a imagem”. Eu não sei se eu estava usando meias de seda. Só sei que se estava, elas se perderam nas noites de luz baixa, entre as colchas do meu quarto.


* "That thou, light-winged Dryad of the trees
In some melodious plot
Of beechen green, and shadows numberless,
Singest of summer in full-throated ease.”