Às vezes penso no Universo como uma grande matrioshka. A gente vai tirando uma por uma até chegar à ideia de Deus. E Deus é essa última matrioshka, única e indivisível. A ideia de Deus é muito mais acessível ao pensamento humano do que todo o Universo. Deus fez o homem à sua imagem e semelhança? Ou o homem “fez” Deus à sua imagem e semelhança? E por que o homem assim o teria feito, se para criar um ser Todo-Poderoso e onipresente ele poderia usar de toda criatividade de que dispõe? Não poderia Deus ser uma luz? Uma energia? Ou até amorfo? A resposta para isso, em minha opinião, reside no seguinte fato: a mente humana é incapaz de dimensionar o infinito, um sem-fim desconhecido, apenas finge conhecê-lo na literatura dos séculos, em símbolos que representam e dão a ideia de infinito. Mas como representações humanas, são forçosamente finitas. E antes mesmo que uma mente humana começasse a tentar imaginar esse infinito, se encheria de medo e se reduziria à sua pequenez. Então, qual a solução perfeita para esta equação? Uma transferência pictórica. Substituir essa imagem atemorizante e essa sensação de angústia diante do desconhecido por uma imagem mais que conhecida: a do semelhante. Deus é o familiar, é o afável. Não me dê poeiras cósmicas, buracos negros e supernovas. Isto não está ao meu alcance. Dê-me os braços de meu pai que muitas vezes me acolheram e os olhos ternos de minha mãe. Dê-me conforto. Isto é Deus. O resto é física quântica. Enquanto isso, vou me encolhendo, procurando abrigo nessa grande matrioshka, com homens que parecem Deuses e um Deus que parece homem.
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
sexta-feira, 26 de abril de 2013
terça-feira, 16 de abril de 2013
terça-feira, 26 de março de 2013
Ronda noturna
O que me restou são essas imagens que me assaltam madrugada
adentro. Recordações. Imagens caleidoscópicas e sensuais. Recordações que tanto
podem ser do passado quanto do futuro. Isso porque, devo explicar, sofro de
anacronismo genético e de nostalgia congênita, de coisas que não aconteceram e
possivelmente nem irão acontecer. Apago a luz, deixo a lâmpada da cabeceira
acesa. Gosto da penumbra. A escuridão deixa tudo demasiadamente plano, e eu não
quero você geométrica, cartesiana. Quero você pulsante, transbordante. Já a luz
em excesso me dói os olhos. A penumbra cai bem pro meu paladar escorpiano. A
minha ideia de ti é sempre incompleta, imperfeita. Só o meu tato que permanece agudo como uma
estaca de gelo. Agudo, ângulos,
geometria...não, não se trata de geometria. Trata-se de som, de ruídos,
ondulações - de novo vida pulsante. O agudo do canto das Dríades que habitam as
relvas, possivelmente a mesma
música que Keats apreciou tempos atrás*. Música anciã que atravessou
chuvas e terras molhadas até chegar à minha geração. Mas a visão ainda é
imprecisa. Será a miopia? De repente ela se lembrou daquela passagem de
McLuhan: “A meia de seda de malha larga é muito mais sensual do que o nylon macio, porque o olho manipula,
preenchendo-a e completando a imagem”. Eu não sei se eu estava usando meias de
seda. Só sei que se estava, elas se perderam nas noites de luz baixa, entre as
colchas do meu quarto.
* "That thou,
light-winged Dryad of the trees
In some melodious plot
Of beechen green, and shadows numberless,
Singest of summer in
full-throated ease.”
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