segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Cuidado com o Barravento!

Nem sempre a canção praieira é pra se ouvir embaixo de um coqueiro em Itapoã ou pra cair no colo de Iemanjá. E, como Vitor Serejo é um cineasta que faz música e um músico que faz cinema, valho-me da comparação: "Talefe" é como o corpo viril de Aruã, sempre na iminência de desandar um Barravento*. Em "Simplesmente Nós" o céu é azul e limpo e a brisa ainda faz carinho. Mas não tarde e em "Só" já avistamos um céu pedrento, cujo prognóstico nos dá a sabedoria popular: ou chuva ou vento. O mar se agita, e quem tem juízo só pode demonstrar reverência e respeito. O timbre grave de Vitor e os arranjos ousados de Augusto Feres nos convidam a tatear a música. Em "Rosinha do Céu", o mar das tempestades, o mar-potência de Jorge Amado subitamente torna a ser o mar que acaricia os cabelos, em um belo dueto entre Vitor e Aline Lessa. A presença feminina(lembrando que a mulher reina o mar)torna em "Salgado" -- não em voz, mas na lírica por trás da voz-- composição feita em parceria com Renata Machado: "Lágrimas são mares". Daí em diante, tudo é calmaria: podemos aposentar nossa rosa dos ventos. Tudo em "Talefe" é imersão.

*Conforme explicado pelo filme de mesmo nome "Barravento"(Glauber Rocha, 1962) é o "momento de violência, quando as coisas de terra e mar se transformam, quando no amor, na vida e no meio social ocorrem súbitas mudanças."

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