quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Voltar

Esqueci lá um par de brincos que já nem usava muito, mas vai virar a estação e pode ser que eu queira voltar a usar.
Preciso voltar e buscar.
Eu sou tão desorientada e por toda a estrada há vendinhas de cana
Onde um senhor boa praça oferece Pitú que desce ardendo como nós bem constatamos naquele dia.
Não é seguro andar embriagada ou excessivamente apaixonada
“Viajantes apaixonados se mostram assim tão distraídos e chamam a atenção dos saqueadores. Na estrada só tem chão, vendedores ambulantes e saqueadores.”-adverte o sujeito boa praça num falar assoviado entre o dente que lhe falta; “você que vem do Sul, precisa se alimentar e tomar cuidado. Ande só pelas sombras que o sol de meio-dia queima.”
E segui, sem dar ouvidos ao senhor simpático. Eu deveria ter escutado!
- uma nota de rodapé nesse chão de terra seca que o pisar tirou a fertilidade: os sábios só são sábios porque já viveram demais e a minha grande sabedoria é não escutar, fazer o que bem entendo e depois me arrepender porque só assim um dia serei sábia também-
 Os saqueadores fizeram com que nada mais eu tivesse a esquecer, pois já não tinha mais nada. E andar no Sol fez com que meu rosto ardesse e eu me senti tão satisfeita-inclino o rosto para cima, num convite-  porque a insolação parecia cair tão bem com as descrições que os poetas fazem de paixão.
Agora já não precisava de pretexto pra inventar e nem você de resgate pra cobrar.
Preciso voltar porque é lá que você está.

Um comentário:

  1. Não canso de me encantar com o seu estilo clariceano. Quero estar viva quando você for consagrada como grande escritora. Maravilha de conto!

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